A CULPA É DO FIDEL – La Faute à Fidel

Opinião
“- Você entende o que é solidariedade? Você entende que viemos aqui pelo seu futuro? Na Espanha eles matam pessoas por causa de suas ideias. Na América Latina, os pobres vivem como animais.”
Não tenho dúvida de que a culpa é realmente do Fidel. A menina Anna de la Mesa (Nina Kervel) me cativou com sua atuação e argumentação brilhantes. Fidel e os “barbudos” que se cuidem!
A grande magia do filme está no entendimento que Anna, de 9 anos, tem do contexto político da época em que vive. Algo parecido com o brilho do filme O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, que se passa na mesma época e é contado a partir da perspectiva de uma criança. Estamos falando de 1970. Anna mora com os pais (vividos por Stefano Accorsi e Julie Depardieu, filha de Gérard Depardieu) na Paris burguesa, tradicional e católica. Após a morte do tio pela ditadura de Franco, na Espanha, seus pais passam a questionar sua postura diante da sociedade, seus valores e estilo de vida capitalistas.
Anna presencia tudo isso e o filme faz uma interessante varredura sobre a situação sociopolítica mundial da época. Ela participa das manifestações, presencia as mudanças da época e entende aquilo que é possível absorver aos 9 anos. Sua vivência vai desde a posse e morte de Allende, no Chile, maio de 68 em Paris, Guerra do Vietnã, os barbudos de Cuba, a ditadura de Franco, o aborto, a liberação sexual. Os diálogos são engraçados e a os orgumentos de Anna, inteligentíssimos.
Naquele mundo em ebulição, o curisoso é observar a construção de uma identidade. Sem forçar, os pais explicam aquilo que Anna pergunta. Não vão além da possibilidade do seu entendimento e adotam uma postura educacional aberta e franca. Dão espaço para o desacordo, para as concessões, sem imposição de uma forma de pensar. A partir daí ela contesta muito – com propriedade, diga-se de passagem – vai contra a opção comunista dos pais e suas implicações e cria um espírito crítico muito saudável e construtivo. Genial!
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