CASAMENTO SILENCIOSO – Nunta Muta

Cartaz do filme CASAMENTO SILENCIOSO – Nunta Muta

Opinião

O que era um vilarejo tranquilo antes do final da Segunda Guerra foi destruído pelos comunistas para a construção de uma fábrica; onde era uma fábrica antes da queda do Muro de Berlin e do ditador comunista Ceausescu em 1989 será construído um vilarejo turístico. Assim é a troca de poder, na Romênia e em qualquer lugar. Mudam-se os interesses, a destruição e a construção de uma realidade se sobrepõem com a maior facilidade – questão de conveniência. Coisa que não acontece com tanta desenvoltura assim com as pessoas, que ficam à mercê de toda essa movimentação de egos.

Essa insensibilidade humana é o ponto mais tocante de Casamento Silencioso. A vida de um vilarejo, com tudo que lhe é próprio (homens beberrões, romances tórridos nos campos, figuras caricatas), é eliminada de repente, durante uma festa de casamento; 50 anos depois, quem passa por lá não tem memória, respeito com o passado, com a tradição. Resta a ironia, o interesse pelo resultado. Fica o silêncio que dá conta de calar também ao espectador diante de almas fantasmagóricas, do cenário desolador e dos esqueletos do regime comunista.

Há sensibilidade de sobra na maneira de contar a história e, por isso o estranhamento é inevitável. O diretor Horatiu Malaele contrapõe o sarcasmo dos jornalistas que entram no que restou do vilarejo a procura de uma história sobrenatural, à melancolia, apatia e profunda tristeza das mulheres viúvas que sobraram ali depois daquele casamento em 5 de março de 1953. Vale dizer que coincidentemente morre nesse dia o líder soviético Stálin e, portanto, fica proibida qualquer manifestação festiva, música, dança, casamento ou funeral. O que se segue é uma cena tragicômica que beira o absurdo. Assim como a imposição do poder – mas essa é o absurdo propriamente dito.

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