Opinião

Deveriam ter feito uma tradução literal do título – A Imigrante teria sido perfeito. É exatamente disso que o lindo filme de James Gray, também do intenso Amantes, trata. Em todas as suas facetas: na devastação de quem chega num país estrangeiro; na crueldade e frieza de quem recebe o imigrante; no oportunismo de quem se aproveita daquele que não tem como se defender. Marion Cotillard brilha mais uma vez, assim como já brilho em diversos filmes publicados aqui e sempre recomendados – veja neste link da lista de filmes com a atriz, que começa com Ferrugem e Osso e termina com Piaf. Nada mal.

Em passagem por Nova York, fui visitar Ellis Island, que faz parte do monumento da Estátua da Liberdade. Era ali que os imigrantes europeus desembarcavam do final do século 19 até meados dos 20, a procura de uma vida melhor. O prédio por onde passavam, onde era feita a revista e checagem de documentos e onde ficavam em quarentena no caso de doenças como a tuberculose, é hoje uma museu e pode ser visitado.

É lá que chegam as irmãs polonesas Ewa (Marion) e Magda Cybulska em 1921, fugindo da miséria em seu país. Logo de cara Magda é detida porque está doente, Ewa é resgatada por uma aparentemente boa alma (Joaquin Phoenix), que promete protegê-la em Nova York, que depois vira sinônimo de prostituição. Sem opção, Ewa é a tradução perfeita da imigrante sem recursos, sem contatos, sem oportunidade – assim como são muitos até hoje. Um terceiro personagem entra na trama (Jeremy Renner) e o triângulo amoroso (e intenso) está formado.

Vale pela construção de uma época, pela dramaticidade e perfeita liga entre o trio e pelo bonito registro de um momento ainda atual, neste mundo em constante migração de povos sem pátria, clandestinos a procura de uma terra prometida. Eu só mudaria o nome. A Imigrante tem a força necessária que traduz a trama e pode ser transportada para qualquer realidade no mundo – que é, para mim, o grande trunfo do filme.