FELIZ ANIVERSÁRIO – HAPPY BIRTHDAY

Cartaz do filme FELIZ ANIVERSÁRIO – HAPPY BIRTHDAY

Opinião

Nem no seu melhor sonho Toha poderia imaginar que conseguiria ajudar a organizar uma festa de aniversário para sua melhor amiga Nelly. Isso porque Nelly explica que qualquer desejo pode ser realizado no soprar das velas do bolo de aniversário. E, desejos, é o que Toha tem de sobra. Acontece que Nelly é a filha da patroa de Toha, que não passa de uma criança e, ao amarrar o lenço na cabeça percebemos que estamos diante de um abismo. Toha é a empregada doméstica dessa casa de um luxuoso condomínio no Egito. Aos oito anos de idade.

Mas acontece que Laila, a patroa, está de mudança. Enfrentando um divórcio, já está empacotando tudo pra sair da casa. Mas talvez Toha tenha razão. A insistência infantil, mesclada com o entusiasmo e a ilusão de que seria possível realizar desejos em uma sociedade desigual e injusta, fazem Laila mudar de opinião. Façamos a festa, então — ela também ancorada no desejo de que a comemoração pudesse produzir uma reconciliação com o ex-marido.

Só que não. FELIZ ANIVERSÁRIO mostra que se reconciliar não faz parte deste universo de barreiras definitivas. Enquanto Toha vai comprar bolo, enfeites, roupa para a festa com a patroa, os constrangimentos se somam ao desrespeito e ao disparate do discurso da manutenção dos privilégios. Entre a casa do condomínio, em que ricos erguem muros para manter “os outros” fora da vista, e a comunidade da periferia, em que crianças têm que pescar para ajudar na renda familiar, a desigualdade se perpetua e se banaliza. Mesmo sendo a incentivadora da festa, Toha não pertence nem à família rica, nem ao momento de comemoração.

FELIZ ANIVERSÁRIO coloca cada um no seu devido lugar, seguindo à risca a cartilha da manutenção da desigualdade social. Um reforço de que o direito de sentir pertencimento passa pelo crivo mesquinho e por códigos sociais, comportamentais, econômicos perversos que acabam por definir quem realmente somos.

Vencedor dos prêmios de melhor filme e roteiro internacional, além do prêmio Norah Ephron, para Sarah Goher, no Festival de Tribeca.

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