GLORIA!

Opinião
Especial para 74ª Berlinale
Um pouco de leveza não faz mal a ninguém. Se GLORIA! não tem precisão histórica, isso é feito propositalmente. Filmes que têm um recorte de época podem se apropriar de um momento no tempo e no espaço pra construir paródias e estabelecer a relação com o espectador, mesmo que seja colocando a música pop num instituto católico para meninas órfãs na Itália nos anos 1800.
O roteiro criado pela diretora Margherita Vicario se sobrepõe à sua trajetória como musicista e cantora de música pop. Ao pesquisar a história de compositoras neste começo do século 19, Margherita descobriu esta instituição em que meninas compunham músicas, mas muito provavelmente suas obras eram apropriadas por homens, já que há poucas mulheres levam créditos nesta época. A partir daí surge a ideia de criar as personagens que passam a vida nesse lugar, são como irmãs e vêm na música a saída para as regras, as tradições e a expressão livre de quem são. Era a chance de desenvolver o “pop cinematográfico”, como disse Magherita na coletiva da Berlinale.
Mesmo preferindo não rotular o filme como “realismo fantástico”, a diretora ressalta que a jornada das meninas é interior. É uma busca pela liberdade de expressão, mesmo que isso signifique transgredir as mais rígidas regras — claro, estamos falando da igreja católica. Mas tudo tem leveza, tudo é música. “O que move as meninas é a energia comum entre elas, o desejo de sonhar com um futuro diferente”, diz ela. E, pra isso, a ambientação é de fantasia quando se trata de música e vemos o moderno no erudito, a graça e o humor dissolvendo a rigidez. Não há mal nenhum — é um feel-good movie pra suavizar um pouco a densa Berlinale. De quebra, traz a discussão de mulheres silenciadas e sem voz neste tempo em que serviços maternos e domésticos era o que lhes cabia.
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