MULHER DE – WOMAN OF

Cartaz do filme MULHER DE – WOMAN OF

Opinião

Especial 80º Festival de Veneza

Imagine um país em que não há leis que protejam a comunidade LGBT+. Imagine que a pessoa decide fazer a transição de gênero e precisa processar os pais alegando que eles fizeram o registro com gênero “errado”. Imagine que se essa pessoa for casada, ela precisa se divorciar para poder fazer a transição. E por aí vai. Este país é a Polônia, que tem mais um filme potente aqui em Veneza: KOBIETA Z… , que ganhou o título WOMAN OF.

Apesar de abordar a questão da transição de gênero, o filme é uma história de amor e liberdade. “A Polônia está polarizada, na mídia e na política”, diz a diretora Malgorzata Szumowska, que co-dirige com Michal Englert. “Achamos que estava na hora de contar essa história pra mostra que somos humanos iguais, que as emoções são as mesmas.”

E é sobre amor mesmo. Conta a história de Aniela, uma mulher trans que vive metade da vida como homem, casa-se e tem um filho. Ela mora em um vilarejo polonês em que as tradições católicas fazem com que seja ainda mais difícil a aceitação. Mas nem por isso é militante ou vitimiza a comunidade LGTB+. Pelo contrário. É belíssimo e respeitoso, trazendo sempre o aspecto humano e afetivo para o primeiro plano. E, claro, é um filme que tem o selo de um filme de autor: sobre uma história que precisa ser contada, trazendo reflexões e entendimento de mundo.

Quem representa Aniela na vida adulta é uma atriz cis Malgorzata Hajewska-Krzysztofik, que faz o papel de forma espetacular. “Foi praticamente impossível encontrar uma atriz trans nesta idade pra fazer o papel”, conta Michal Englert. “Isso mostra como estamos oprimidos pelo desinteresse político e legislativo de regulamentar o assunto.” A opressão por que passa Aniela também existe o paralelo político, já que a personagem passa pela ruptura do comunismo em 1989. O paralelo é feito praticamente de forma orgânica, compondo o panorama das mudança sociais, mas ainda com intolerância e desrespeito.

 

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