LEFT-HANDED GIRL
Opinião
O fato de a menina ser canhota muda tudo. Na cabeça dela. E na cabeça de quem tem pensamentos estreitos, rasos; de quem rotula — seu avô, neste caso, que acha que usar primordialmente a mão esquerda é coisa do diabo. Desenvolver a culpa no outro através da pressão dos rótulos constrói um sentido bem mais profundo para LEFT-HANDED GIRL que vai além da forte história da mãe que volta para a cidade com duas filhas e tem que se adaptar à rotina do trabalho no mercado noturno e tentar sobreviver às adversidades.
A pequena I-Jing é quem guia o espectador pelas ruas de Taipei, em Taiwan. Seguimos com ela pelo labirinto do mercado, que lembra a trajetória da personagem Moonee, de Projeto Flórida — claro, Sean Baker é co-roteirista e é nítido o seu olhar que proporciona a visão da criança deste mundo adulto caótico e desigual. I-Jing está sempre na berlinda entre a mãe que rala pra pagar o aluguel do restaurante e enfrentar as desavenças familiares, e a irmã mais velha que cuida dela, mas tenta disfarçar a solidão levando uma vida sem cuidar de si própria.
LEFT-HANDED GIRL retrata uma família de mulheres em que a repetição dos modelos de comportamento são reforçadas por elas mesmas, doa a quem doer. A culpa que I-Jing sente por usar sua mão esquerda vai ser potencializada no fim do filme em outro conflito. Uma reviravolta que liga todos os pontos deixados soltos no decorrer da história, numa amarração surpreendente de se ver.

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