PARASITA – PARASITE

Opinião
Suzana Vidigal, para a 43ª Mostra SP
O sul-coreano Parasita levou a Palma de Ouro em Cannes em 2019; no ano anterior, foi o japonês Assunto de Família. Dois asiáticos. Tanto o filme de Bong Joon Ho, quanto o de Hirokazu Koreeda falam das pessoas marginalizadas, da diferença de classes, da sociedade nas suas relações distorcidas e doentias. Inevitável pensar nos dois filmes lado a lado, numa visão sombria dos dias de hoje, vinda do Oriente, duas vezes seguidas.
Uma família de quatro está desempregada, mora num porão sujo e caótico e vive tentando se conectar no sinal de wifi desbloqueado de algum morador. Bola um plano, num primeiro momento infalível, para se infiltrar na casa se uma família rica e estilosa, símbolo da classe bem sucedida. Na realidade, são dois filmes em um: na primeira metade, é uma sátira bem humoradas da relação entre patrões e empregados, entre os esnobes e os trambiqueiros. Na segunda metade, entretanto, a tensão se instala, como se sem ela não fosse possível coabitar – e, nem mesmo, coexistir. É matar ou morrer, fazendo a leitura sombria de que, no ponto que chegamos, não há como suportar as diferenças.
Parasita impacta, faz pensar. Ultrapassa qualquer limite de bom senso, de conciliação entre as classes, com a arquitetura da bela casa com assinatura de arquiteto famoso num encaixe perfeito com o porão sujo e apertado. O lar, enquanto reflexo daquele que o habita. Só mesmo a cabana de índio salva e é capaz de ler os códigos nefastos da quase inexistente comunicação entre as pessoas.
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