PEDÁGIO

Cartaz do filme PEDÁGIO

Opinião

Suellen preferia que Tiquinho não soubesse o que é água micelar. Preferia que o filho fosse viril, que não pegasse sua maquiagem, que não gravasse vídeos fazendo caras e bocas. Suellen preferia que os vizinhos não falassem pelas costas e que seu filho fosse normal.

Atendente do pedágio de Cubatão, Suellen é uma mulher como tantas outras que acorda de madrugada pra conseguir chegar no trabalho a tempo, rala pra por comida em casa, tá sempre sem grana, vive resmungando, descobre que namora um mal caráter e, como se não bastasse, não tem mais paciência com as maluquices do filho. A cura gay bate na porta pelas mãos da colega de trabalho viciada em sexo, que também se trata na igreja com o pastor. Afinal, pra Deus não há barreiras e ele tudo cura. Basta pagar.

Em PEDÁGIO, Carolina Markowicz segue na linha de CARVÃO: constrói uma crítica social com humor ácido, em que o conservadorismo se confunde — e se ancora — na tradição religiosa que, por sua vez, quer dinheiro dos fiéis. Como tudo tem um preço, Arauto aparece como salvador da pátria falida apresentando os esquemas de roubo e fraude à la brasileira a que somos submetidos por aqui. É a formação de uma teia perversa, um emaranhado de manipulações que sufocam mãe e filho com veneno homofóbico e hipocrisia religiosa.

Vencedor do Festival do Rio 2023 e com passagem por importantes festivais como São Paulo, Toronto, San Sebastián, Vancouver, Bordeaux e Roma, PEDÁGIO é paulista e brasileiro. A cara da dificuldade de desconstruir preconceitos e de construir diálogos.

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