QUERIDO TRÓPICO
Opinião
Não por acaso as reflexões sobre etarismo estão na pauta do dia. Demorou. Mas veio pra ficar porque ficaremos, inclusive, muito mais tempo por aqui do que se podia imaginar. Ou do que podemos de fato programar. Preparar-se, pensar sobre e planejar, minimamente, como seria envelhecer é a parte que nos cabe de previsibilidade.
O restante é imprevisível. E avassalador. O envelhecimento vem com o cansaço e a falência dos nossos mecanismos do corpo e da mente, e o cuidado entra como peça fundamental para fazer funcionar essa engrenagem longa, duradoura e dolorida da partida. QUERIDO TRÓPICO é essencialmente sobre o tempo. Da cuidadora Ana Maria, que entende que o tempo de Mechi (Paulina García, também em Gloria) é outro, ela que já não se conecta com o tempo presente de uma família acelerada e sem tempo pra se doar.
TOQUE FAMILIAR fala disso e emociona no recorte da transição dos momentos de lucidez, com outros de desligamento. Em QUERIDO TRÓPICO, indicado do Panamá ao a desconexão com o mundo é regra e Mechi, empresária que fez fortuna no Panamá, já está distante. Sua filha contrata Ana Maria, uma imigrante colombiana calma e gentil, que está grávida e precisa conseguir regularizar seus documentos no país. Em uma relação construída com delicadeza, paciência e muitos silêncios traz o tempo pra uma outra dimensão. Inclusive num convite ao espectador para que observe. Já somos todos cuidadores, de filhos, de pais, de avós. Se você ainda não se sente nessa situação, prepare-se. Invariavelmente você chegará lá também.


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