SOUND OF FALLING

Opinião
De terras alemãs veio o primeiro longa da competição — que também é feminino, do começo ao fim, mostrando como a linhagem feminina é gestora de histórias, heranças emocionais, traumas, afeto. SOUND OF FALLING, de Mascha Schilinsky, tem um desenho de som e de imagens incentivo e inteligente, que diz o essencial. O restante, o espectador vai costurar com a história de gerações ocupando um mesmo espaço, com mulheres vivendo as recorrentes violências. Segundo longa da diretora, tem uma beleza profunda e densa analisado a presença do ser mulher neste mundo. Desde sempre.
“Os personagens estão caindo o tempo todo no filme, passando de uma era para outra. Sound of Falling me pareceu perfeito”, diz Mascha na coletiva de imprensa. Poderia ser algo como “o som da queda”, porque o que testemunhamos é algo brusco, rupturas extremas na vida das mulheres que vai determinando a trajetória inclusive das próximas gerações.
E foi da observação de fotos dos anos 1920, de mulheres de diferentes idades, que veio a ideia de falar deste lugar onde o tempo parece que parou, mas que registra, no corpo das pessoas, os traumas passados. “Não temos acesso aos traumas do passado, mas nossos corpos indicam que existe uma dor e que ela está em algum lugar no coração”, completa.
É verdade. Sentimos o coração pulsar das mulheres que habitaram essa fazendo onde o tempo parou, mas onde as cicatrizes de violências são aparentes e até parecem uma teia que as aprisiona. E me aprisionou também, pensando em como é universal a ideia de um território carregar a herança sentimental de uma família. Claro, porque a ideia da diretora foi fazer um filme que fizesse o espectador sentir, por isso a opção por usar uma estrutura linear temporal. “Os saltos no tempo são subjetivos, e ao invés de termos um filme cronológico, tempos fragmentos da memória”, diz Mascha. Claro, memória e trauma andam sempre de mãos dadas. Decisão fundamental da diretora pra elevar o filme pra outro patamar.
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