VICE

Opinião
O que Vice tem de melhor é o seu protagonista. Christian Bale se transforma, engorda horrores, incorpora os horrores da política e da manipulação, numa frieza que dá até arrepios pensar em-que-mãos-estamos. Atuação incontestável – que no meio da edição audaciosa do filme e da direção pulsante de Adam McKay (também de A Grande Aposta), traça um panorama da vida pública de Dick Cheney e conta, por tabela, como foram os bastidores da política americana nas últimas décadas.
Cheney costurou grande parte dos grandes acordos e decisões tomadas pelos Estados Unidos – da Guerra do Golfo à invasão ao Kuwait como Secretário de Defesa, da invasão ao Iraque, da guerra no Afeganistão, à tortura nas prisões em Cuba após os ataques às Torres Gêmeas como vice-presidente de George W. Bush. Costurou e deu nó cego – pelo retrato de McKay, não havia ninguém capaz de desatá-lo, cada vez mais apertado pela sede de poder.
Apoiado incondicionalmente por sua esposa (Amy Adams, também em Animais Noturnos), Cheney é ágil e faz o mundo acontecer como lhe convém. Adam McKay tem humor – ácido -, e picota o filme também com agilidade, sendo didático, mas também rápido demais no gatilho – o que pode dar a impressão, pra muita gente, de falta de tempo pra entender os meandros. Em A Grande Aposta é pior – porque exige um mínimo de compreensão do mercado financeiro pra sacar qual era o tamanho da encrenca. Aqui, é política. A gente sabe bem como funciona. Parece que fica, infelizmente, mais fácil de entender.
O melhor é Christian Bale, mas o genial é a escolha do narrador. Sem spoilers, mas é genial.
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