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78º FESTIVAL DE CANNES _ 2025

Hoje começa o 78º Festival de Cannes e o Brasil está por aqui em peso. É destaque no Marché du Film, mercado considerado o mais importante do mundo, em que filmes do mundo todo são expostos e comercializados. Pra nós, é uma oportunidade incrível de espalhar nosso audiovisual para os quatro cantos.

Mas o mercado é direcionado aos profissionais da indústria, o que é uma outra prateleira. Pra nós aqui, jornalistas e cinéfilos, o Brasil está representado por  O Agente Secreto, de Kleber Mendonça Filho. É dele também Bacurau, mas o que eu mais gosto ainda é Aquarius. Concorre à Palma e tomara que chame a atenção do mundo. Bom pensar que teremos mais um filme trazendo nossas histórias, agora com Wagner Moura como protagonista. Mas não pense que surfa na onda de Ainda Estou Aqui. Cada filme tem sua trajetória e o nosso mar está, definitivamente, pra peixe.

Também temos brasilidade na Quinzena dos Realizadores, com o diretor Karim Aïnouz pilotando o projeto Director’s Factory Ceará Brasil, um projeto que inclui quatro curtas metragens de jovens realizadores do Norte e Nordeste. Destaque pra novos talentos em coproduções internacionais com Cuba, Portugal, França e Israel.

Mas, diferente do que se pensa, nem tudo é promissor em festival, nem mesmo em Cannes. Filme de abertura não costuma ser especial, embora tenha esse selo de ser o “escolhido para dar o pontapé inicial”. Mas é sempre bom baixar as expectativas. Aqui na França, nada mais justo que começar com um filme local.  Partir Un Jour é o primeiro longa de Amélie Bonnin, mas não faz jus — nem de longe — à abertura de Cannes. E pra quem perder a abertura, não há problema. O filme já estreia nos cinemas franceses em seguida.

Digo isso porque não é o que acontece com a maioria dos filmes em competição pela Palma de Ouro. Eles normalmente têm uma carreira a construir, que fortalecerá (ou não) sua condição comercial mundo afora. Por isso, a chancela de festival é importante, assim como é rico olhar pra filmografia do diretor que tem filme selecionado nesta edição. A gente aumenta repertório e acompanha mais de perto o que vem por aí nos próximos 12 dias de festival.

Wes Anderson que o diga. Apresenta The Phoenician Scheme, mas confesso que gosto da sua obra na versão animada. Ilha dos Cachorros é uma maravilha. Richard Linklater vem com Nouvelle Vague em plena França — um projeto ousado pra francês ver, sobre a refilmagem de Acossado, de Godard. Tomara. Linklater se comunica como ninguém, vide a trilogia do Antes (Antes do Amanhecer, Antes do Pôr-do-sol, Antes da Meia-Noite).  Ansiosa por aqui.

Dos franceses, conheci Dominik Moll com A Noite do Dia 12, sobre uma investigação de feminicídio com olhar particular masculino. De novo vem com investigação em Dossier 137. Veremos. Já Julia Ducournau, do arrasadora Palma de Ouro com Titane, concorre com Alpha, sobre uma adolescente problemática que vive sozinha com a mãe, que vê o mundo desabar quando aparece com uma tatuagem.

Mais mulheres na direção com a espanhola Carla Simón, que levou Urso de Ouro com Alcarràs, agora traz Romería, ainda autobiográfico. Cinema intimista — e universal. Kelly Reichardt, do ótimo A Primeira Vaca da América, chega dos EUA com The Mastermind, que fala do roubo de quatro obras de arte nos anos 1970 e de como a vida fica difícil para os bandidos depois disso. Já a britânica Lynne Ramsay, apresenta Die, My Love, em que uma mãe luta pra manter sua sanidade mental em uma área rural remota. É obra da diretora que fez Precisamos Falar sobre Kevin. Como esquecer deste filme? Vem algo intenso e denso por aí.

Se formos pra os escandinavos, Joachim Trier, de A Pior Pessoa do Mundo, apresenta Sentimental Value, de novo com Renate Reinsve. Quem bom! E da Bélgica, os tão amados e humanistas irmãos Dardenne trazem a maternidade com o filme Jeunes Mères. Pensando em O Garoto da Bicicleta e trantos outros, Vem drama por aí.

Vale lembrar que quem manda no júri este ano é nada mais, nada menos que Juliette Binoche, que traz a França na sua bagagem enquanto representante da cultura e do cinema francês. Enquanto Greta Gerwig deu pra Anora a Palma de Ouro ano passado, esperemos que Binoche traga o cinema de autor de volta pra Riviera Francesa. Nada contra Anora, que eu gosto. Mas é cara de Oscar, não de Palma de Ouro. Aqui, a prateleira é outra.