ADAGIO

Cartaz do filme ADAGIO

Opinião

Especial 80º Festival de Veneza

 

Roma está queimando, literalmente. A cena de abertura de ADAGIO mostra um incêndio no horizonte e uma cidade que sofre blecautes seguidos. Queima porque é verão; queima porque transita na criminalidade romana, no submundo de uma grande metrópole e na realidade de uma gangue de criminosos aposentados, prontos pra colocar em prática velhos costumes se necessário.

E se fez necessário. Quem abre a trama é Manuel, um jovem que tem uma missão: ir à uma festa e fazer um vídeo que mostre cenas comprometedoras de alguém. A partir desse momento não é mais um jovem livre. Sabe demais e viu demais. Envolve-se com a polícia corrupta e com uma gangue de criminosos idosos, que não economizarão esforços pra se verem livres dessa trama. O trio marginal é composto por Pierfrancesco Favino, Toni Servillo e Valerio Mastandrea, que tem o passado entrelaçado por uma vida fora da lei. Pra contar essa história, usam uma linguagem gráfica e corporal importante — reparar nos gestos, no caminhar, nas palavras, na cegueira, no corpo curvado, na calvice traz elementos fundamentais sobre quem é essa geração que se vai e abre alas para os mais jovens.

O italiano Stefano Sollima, também diretor das séries Gomorra e ZeroZeroZero, e do filme Sicário 2, traça a jornada de Manuel lindamente, escolhendo pra ele um desfecho primoroso. Os três velhos lendários se despedem desta Roma que pode ser duas coisas distintas: apocalíptica, como fim do mundo, ou uma cidade que queima porque sinaliza uma era de renascimento. É um ótimo filme de ação, lembrando que cada um dos personagens tem sua jornada pessoal, fazendo de ADAGIO um filme intimista. Aqui não tem o bem contra o mal. O buraco é mais embaixo.

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