BORDER

Cartaz do filme BORDER

Opinião

O escritor John Ajvide Lindgvist imagina histórias de gente que não existe. Mas que a gente acredita existir, tamanha a sua humanidade. Embora não faça sentido, seus personagens estão cobertos por dilemas universais como o bullying, a rejeição, o não-pertencimento. Também autor de Deixa Ela Entrar, Lindgvist escreve Border, que o iraniano naturalizado dinamarquês Ali Abbasi traduz para as telas com impulso, vigor e uma parcela de estranheza tão intensa que é impossível não ser impactado.

Border, traduzido literalmente como fronteira, fala dessa linha tão rígida que divide as pessoas em segmentos, que rotula, que exclui. O filme expande um conto que fala de Tina, uma mulher diferente, com feições deformadas, algo que parece uma síndrome – mas não é exatamente isso. Causa repulsa, tamanha a sua condição fora de qualquer padrão. Apesar de esquisita, Tina se adequa às expectativas da sociedade. Como tem um faro excepcional, trabalha como fiscal portuária, detectando possíveis drogas, material de pedofilia, álcool na bagagem dos passageiros. É um tipo de radar-humano. Só que implacável.

Até que conhece alguém como ela e seu instinto primordial, não-humano, se solta das amarras da sociedade e vem à tona uma mulher visceral. Animal.

Ninguém sai ileso de Border, que venceu o prêmio mais interessante de Cannes, Un Certain Regard. Perturbador, esse olhar. Dos excluídos, dos rejeitados, num extremo que, se pensamos fora da fábula, é assustador.

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