CAOS CALMO

Cartaz do filme CAOS CALMO

Opinião

Que truque você usa quando está perdendo a paciência ou quando a conversa ao redor não lhe interessa? Eu, como não tinha nada na manga, adorei a estratégia de Pietro, o protagonista, personagem de Nanni Moretti (também de O Quarto do Filho, Caro Diário, Habemus Papam). Sem que ninguém perceba, ele faz listas, silenciosamente, cada vez de um tema: lista da companhias aéreas com as quais já viajou, endereços onde já morou, cenas que não suportou ver. O tempo passa, ele se distancia da conversa e mantêm a calma.

Caos Calmo é justamente isso: um retrato do caos armado, paralelo à calma necessária. Pietro perde repentinamente sua esposa, de quem vivia já uma distância emocional, e se vê sozinho com a filha Claudia, de 10 anos. A partir do luto, sua vida muda. Ou melhor, ele a congela para depois pensar nas mudanças. Em vez de retomar o ritmo normal de executivo bem-sucedido, resolve passar seus dias na praça em frente à escola da filha. Esse é o cenário, onde tudo acontece: desde as reuniões e conchavos de trabalho, as conversas com familiares, até o convívio com pessoas desconhecidas que circulam habitualmente pelo local.

Terminei de assistir o filme e confesso que voltei para ver algumas cenas novamente. Senti que a praça é o símbolo do próprio pai, que era antes sistemático e passa a abrir um espaço para humanizar-se novamente. O mais interessante é que ele não adota mudanças, não se precipita, não toma decisões. Simplesmente passa o dia no banco da praça, apropria-se daquele lugar como se fosse seu – tanto que as pessoas que circulam por ali já esperam encontrá-lo por lá – e calmamente recebe todos aqueles que fazem parte da sua vida, de uma forma ou de outra. Simplesmente deixa o tempo passar – e ele passa, da volta das férias de verão até o inverno.

Que maravilha conseguir manter a calma. Quantas vezes é melhor deixar o tempo passar e deixar que ele traga consigo as explicações, a tranquilidade que não conseguimos enxergar em meio ao caos. No caso de Pietro, acho que ele até recuperou o que há de mais singelo nas relações: o convívio, o contato cotidiano, o gesto de que o outro faz a diferença. Nem que seja um simples bom dia sem palavras.

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