CARANDIRU

Cartaz do filme CARANDIRU

Opinião

Passo, com frequência, em frente ao cadeião de Pinheiros. Um desses dias meu filho me perguntou como era o interior de uma prisão. Disse que não sabia, que nunca tinha visto uma de perto. Mas de imediato me veio à mente o cinema como resposta – afinal, ele tem essa função de nos mostrar uma realidade distante, um país distante, um mundo que não conhecemos.

Carandiru seria o filme – apesar da sua violência, objetividade e realidade. Não dava para esquecer que o filme retrata não só a vida na cadeia, mas também o massacre dos 111 presos em outubro de 1992. Tenho até hoje gravada a imagem dos corpos alinhados nos caixões, naquele imenso corredor da prisão.

Revimos Carandiru, com olhos de quem volta quase 20 anos no tempo. O filme é baseado no livro do médico Dráuzio Varella, Estação Carandiru, em que relata sua experiência dentro do presídio quando fazia um trabalho voluntário de prevenção à AIDS no ambulatório. Suas visitas durante anos dão uma dimensão de seus ‘habitantes’, e não da questão prisional ou criminal brasileiras. Portanto, o que se vê são histórias de vida dos presos, a relação entre eles, as disputas, as dificuldades e preconceitos, o trato com a AIDS, a vida por um fio, a vida como um barril de pólvora. Literalmente.

Gostei ainda mais de Carandiru agora. Além de muito bem construído – enquanto roteiro, fotografia, dramaticidade – mostra a realidade da vida dentro das cadeias brasileiras e de muitas no mundo. Vale lembrar que o complexo do Carandiru foi implodido em 2002 e são essas cenas reais que enceram o filme. Humano e desumano ao mesmo tempo. Está visto, essa é uma prisão por dentro. Nas suas entranhas.

Trailers

Comentários