FAROESTE CABOCLO – Entrevista

Cartaz do filme FAROESTE CABOCLO – Entrevista

Opinião

“Eu nunca quis fazer um clipe da música”, disse René Sampaio, diretor de Faroeste Caboclo, durante entrevista. “A música tem 9 minutos e fazer um clipe de 100 minutos seria muito chato.” Recado dado. Portanto, imagine que a canção composta e eternizada por Renato Russo serviu de base para a produção, que conta a improvável e trágica história de amor entre João de Santo Cristo e Maria Lúcia.

Mas o filme tem seu recorte próprio, amplia o sentido da música e vale, definitivamente, o seu ingresso (estreia dia 29 de maio nos cinemas). Pequeno detalhe: não espere ouvir a música durante o filme. Ela só estará presente no final. E por mais que a gente já saiba de cor, fica sentado para ouvir de novo, agora com o recorte de René Sampaio na cabeça. Prova de que o filme tem personalidade, sem deixar de carregar Renato Russo na alma.

Para quem não lembra, João (o ótimo Fabrício Boliveira) é um menino pobre do interior da Bahia, que vive na secura do sertão, perde os pais, vai de ônibus tentar a sorte em Brasília e cai no lugar comum da periferia e das drogas. Conhece a linda Maria Lúcia (Isis Valverde), filha de senador (Marcos Paulo), educada e bem de vida, mas que ainda não sabe o que fazer da vida, perdida na maconha como vários outros jovens brasiliense dos anos 80. Além das drogas, outro empecilho surge entre os dois. Jeremias (Felipe Abib), o rival no tráfego e no coração de Maria Lucia. Até que a história culmina no duelo final, que você provavelmente conhece o desfecho. Em clima de faroeste.

Sem ser panfletário, fala da ditadura e da corrupção da época no país; sem supervalorizar a violência, mostra a crueldade urbana e social em que vivíamos e vivemos até hoje; sem exagerar nas cenas de sexo, constrói um romance improvável mas com sentimentos e doçura, a ponto de criar personagens verosímeis e um clímax incrível no final.

“O filme vem num momento condizente com o Brasil intolerante de hoje”, interpreta Fabrício. “João e Maria Lúcia são diferentes na cor, na cultura, na condição social e no entanto conseguem se afinar, admirar a diferença do outro. E nós, escolhemos o caminho da preconceito ou da tolerância?”, pergunta o protagonista. Além de ser caprichado, bem cuidado e de trazer a poesia e a contestação de Renato Russo para as telas, juntamente com Somos Tão Jovens (ainda está em cartaz), Faroeste Caboclo tem uma boa história para contar, é fábula e atualidade ao mesmo tempo e vale para todas a gerações.

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