FOLHAS DE OUTONO – Fallen leaves

Cartaz do filme FOLHAS DE OUTONO – Fallen leaves

Opinião

De tudo que FOLHAS DE OUTONO transmite com personagens que são pessoas comuns, que executam atividades ordinárias, numa história de amor simplória — e, que fique bem claro, não é pouca coisa —, o que mais chama a atenção é a seguinte mensagem: não leve a vida tão a sério.

Aki Kaurismäki, diretor finlandês de O Outro Lado da Esperança e O Porto, entrega aqui um filme que continua apostando na capacidade do silêncio e do diálogo seletivo dizer mais do que mil palavras. Aposta e ganha. Na história de Ansa e Holappa, um amor que começa aparentemente desinteressado, passa pelo desejo de casamento mesmo sem ter o nome da noiva, muito menos seu consentimento, se aquece no escurinho do cinema, pra se perder no álcool e nos acasos da vida. Ansa é estoquista de um supermercado; Holappa, trabalha na construção civil. São operários e Kaurismäki vai tratar da precarização do trabalho. Rega esta relação com o indiferença dos personagens, o que entra em contradição com a vida ganha do finlandês. Nenhum trabalho os define.

O que pode fazer a diferença é o amor — mesmo que a conversa com amigos sobre ele seja algo sem emoção. Os movimentos calculados dos personagens, que mais parecem marionetes guiados por uma mão precisa e econômica, trazem essa apatia. Movimentam-se pouco, lançam olhares vidrados, como se a realidade da labuta do dia a dia fosse estanque. O mais incrível é que, mesmo assim, há sabor, há graça, com tempero do humor agridoce e impagável. Os diálogos giram em torno da monotonia, da previsibilidade, mesmo se algo inesperado acontece. Tem uma lógica do absurdo e o silêncio é uma ferramenta tanto para o personagem, quanto para o espectador. Assim, temos tempo de pensar e sentir.

Vencedor do Prêmio do Júri em Cannes, são as folhas de outono que dão o tom deste amor de verão. A paleta de cores de tons outonais e tem um ar vintage e a luz é teatral. A piscada d’olhos de Ansa para nós, espectadores, é só mais uma tomada frontal que o diretor faz, nos aproximando dessa trajetória poética e universal de que só o amor, no final do dia, é capaz de colorir a vida e de que ela não precisa ser levada tão a sério assim.

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