IDENTIDADE – Passing

Cartaz do filme IDENTIDADE – Passing

Opinião

IDENTIDADE foi a maneira que encontraram de traduzir o termo “Passing”, que é o título original. Em inglês, dizer que alguém está “passing” é o mesmo que dizer que uma pessoa está se passando por alguém que ela não é na realidade. Aqui, Clare é negra, mas se passa por branca. Escolhe deixar sua identidade pra trás, se afastar dela fisicamente, mudando de cor – tanto na sua intimidade, quanto na maneira com que o mundo a vê.

E de fato, o mundo vê Clare como branca – naquele processo de embranquecimento tão conhecido por aqui também. Com tom de pele também mais claro, Irene também poderia ter se passado por branca, mas escolhe sua consciência negra. Casa-se com um homem de pele mais escura que a dela, tem filhos de pele escura. Mora no Harlem, convive na intimidade com a comunidade negra de Nova York, mas circula pela porção “branca” da cidade onde reencontra Clare, sua amiga de colégio.

É do reencontro de Irene e Clare que o filme fala. E do processo de reconhecer-se, de ressignificar sua cor de pele, de se reposicionar no mundo.

Em P&B esfumaçado – interessante escolha de tirar a cor quando o que se discute é a questão da tom de pele -, Rebecca Hall dirige lindamente essa história nos anos 1920, sobre personagens complexos, mulheres que lutam contra seus fantasmas, que enfrentam os desafios impostos por uma sociedade preconceituosa.

Rebeca Hall não fica no mesmo lugar. Com diálogos inteligentes, atuações humanas e profundas, desenha a linha tênue entre ser livre e pertencer, entre estar segura e desafiar. Os enquadramentos saem da caixa, propõe uma abordagem intimista de modo que, muitas vezes, o olhar prescinde de palavras.

Linda estreia da atriz na direção. Um recorte interessante pra pensarmos sobre a nossa consciência negra.

Trailers

Comentários