CORINGA – JOKER

Cartaz do filme CORINGA – JOKER

Opinião

A primeira providência foi perder peso – Arthur Fleck, que depois ficou conhecido mundialmente como Coringa, é magérrimo. Isso já afetou seu humor. Depois, Joaquin Phoenix, que dá alma ao personagem na sua vida pré-vilão da Gotham City, cria jeitos e trejeitos, uma risada que oscila entre o histérico e o patético, passando pelo assustador, uma psique difícil de interpretar. Essa era a ideia: criar um personagem que não se encaixasse perfeitamente em uma patologia, mas que fosse várias ao mesmo tempo. Afinal, embora o Coringa nos seja familiar enquanto ficção, aqui ele mais parece um ser produzido pela engrenagem social nefasta e maldosa. Um sujeito que não conheceu forma de amor seria incapaz – embora tenha seus momentos de gratidão – de agir com afeto. Sua mãe o chamava de Happy – uma ironia perfeita.

Em um de seus mais recentes filmes, Você Nunca Esteve Realmente Aqui, Joaquin Phoenix é um homem perturbado. Também em A Pé Ele Não Vai Longe é alguém obcecado. Em Ela, é o retrato da solidão na era digital. Incorporar personagens fora do padrão de comportamento considerado normal parece ser o desafio. Coringa vai além. Cria um verdadeiro balé – literalmente, a cena na escada é magistral – em que dança em outro mundo, em que não cabe a ordem natural das coisas como elas são, em que tem a harmonia a vingança e violência do submundo. Aliás, é violência pra todo lado. É preciso lutar com isso, não contra isso. Parece ser a única forma de sobreviver.

Com total liberdade pra criar o passado de um personagem tão emblemático com o Coringa, a construção da sua lógica é perfeita. Sua ilógica lógica, claro. Os argumentos que o levam a se tornar o líder dos palhaços diabólicos é uma retrato da sociedade que sobrevive às custas da existência do bem e do mal, nesse mundo sem qualquer possibilidade de empatia. Mas pode ser só um excelente entretenimento – prometendo colocar Joaquin Phoenix no pódio na temporada de premiações. Mas pensar sobre o passado dos heróis e anti-heróis do nosso imaginário é, ao menos, um exercício de grande imaginação.

 

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