O HOMEM DOS SONHOS – DREAM SCENARIO

Cartaz do filme O HOMEM DOS SONHOS – DREAM SCENARIO

Opinião

Paul Mattheus é um homem comum que, do dia pra noite, vira celebridade. Ou melhor, da noite pro dia, porque o que o faz ser uma referência para as pessoas é algo sem lógica: Paul aparece no sonho de parentes e amigos no primeiro momento, mas em seguida também povoa o sonho de milhões de pessoas que ele nunca viu na vida. Encaixando-se perfeitamente no estereótipo do cara chato e sem expressão, Paul vira “o sujeito mais influente do mundo” num piscar d’olhos. Fica famoso, envaidecido e entra num espiral de perda de identidade.

O HOMEM DOS SONHOS tem o agora ótimo Nicolas Cage no papel deste sujeito apático, que nos causa mau-estar e uma sensação de vergonha alheia pela postura não só ingênua, mas principalmente tola diante do mundo e das pessoas. O que a princípio é fama fácil e promessa de dinheiro, vai aos poucos se transformando em pesadelo. Tudo dentro da metáfora bem construída pra falar da armadilha das redes sociais e das celebridades-relâmpago.

Paul entra nos sonhos das pessoas aleatoriamente, assim como influenciadores sem nada pra nos dizer invadem nosso território mental sem avisar a que vieram. O movimento de valorizá-los acontece do dia pra noite. Sem nos darmos conta, já estamos envolvidos com peripécias e malabarismos, sobre um assunto sem embasamento, consumindo o que todo mundo consome. Inclusive a vida privada dos outros, como se não fôssemos capazes de preencher a nossa com criatividade. O interesse é construído e nós somos fisgados. Feito bobos. Assim como Paul, que é fisgado pela estratégia maléfica e oportunista de “profissionais” empenhados em construir um repertório para alguém que não o possui, não se sustenta e se encaixa na cultura do cancelamento.

Numa analogia ao “melhor dos mundos” — como sinaliza o título original, “dream scenario”—, Paul representa aquilo que sonhamos ter e consumir, invadindo nossa vida em todas as suas camadas, noite e dia, consciente e inconsciente. Esse homem dos sonhos é o retrato do limbo virtual em que nos permitimos entrar, como se alguém fosse nos salvar da nossa falta de curiosidade genuína e individual.

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