AFINAL, O QUE É QUE HUGO INVENTOU?

Cartaz do filme AFINAL, O QUE É QUE HUGO INVENTOU?
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Opinião

Afinal de contas, o que é que Hugo inventou? Aliás, digo com frequência nos comentários do Cine Garimpo que as escolhas comerciais dos títulos pelas distribuidores muitas vezes deixam pelo caminho uma nuance, um significado subliminar sobre o filme, parte da ideia original do roteirista e/ou diretor. O que é uma pena – e um perigo.

No caso de A Invenção de Hugo Cabret, pareceu-me pura preguiça – ou seria desatenção? Assim como acontece com a adaptação de muitos livros para o cinema, ficou mais fácil usar o mesmo título. Claro, a escolha brasileira seguiu a linha do livro homônimo e em que Hugo realmente inventa algo, que funciona como um fecho para a narrativa. Fecho delicado, sutil e muito elegante. Isso se perdeu com a escolha de Martin Scorsese, que ávido por fazer finalmente um filme que sua filha pudesse assistir, resolveu mudar o final. Dizendo isso agora, me ocorreu que ele possa ter alterado a pessoa do inventor para que ela, sua filha, se identificasse. Será? Fato é que o Hugo do seu lindo e poético filme já não é mais o inventor e o público brasileiro mais observador e detalhista ficou sem saber o que essa suposta invenção tinha a ver com os relógios, o cinema, a estação de trem, o autômato e tudo mais.

E também não estamos falando da invenção do cinema como muita gente pensou, nem o filme sugere isso, apesar de homenagear também os irmãos Lumière. Pelo contrário, Hugo já vive a magia da telona desde pequeno com seu pai, apesar de ter de entrar escondido no cinema. O que ele presencia é o ressurgimento da obra e da pessoa de George Méliès, que enxergou o cinema como entretenimento, fábrica de sonhos, fuga da realidade. É a partir dele que os filmes passam a ter o viés da ficção como alternativa para o documentário, para o retrato nu e cru da realidade. Portanto, também não é aqui que você vai achar a tal invenção do título.

Antes mesmo de Scorsese lançar o filme, algumas escolas adotaram o livro para a série de crianças de 11 anos aqui em São Paulo. Interessante escolha, mesmo porque ele tem não só com um repertório literário diferenciado, mas também a linguagem das lindíssimas ilustrações, sempre carregada de significado, e o contexto da criação, do maravilhamento, do sonho que vira realidade, da aventura juvenil. Se você se propuser a ler o livro (A Invenção de Hugo Cabret, Brian Selznick, SM Editora, 534 páginas) terá a chave do mistério. Senão, faça como Scorsese, considere o filme simplesmente Hugo e aproveite a viagem.

 Artigo publicado no Portal Taste (www.taste.com.br).

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