PELA JANELA

Cartaz do filme PELA JANELA

Opinião

Todo road movie é transformador. Não tem como. Aliás, o recurso cinematográfico de filmar uma história enquanto seu personagem se movimenta tem um forte viés metafórico. Há movimento externo, mas ele vai de um lugar para o outro também internamente. Percorre um caminho. Rosália vai de São Paulo a Buenos Aires de carro, mas sai sendo uma pessoa e volta outra.

Outra não – o que acontece normalmente é a descoberta de outros ‘eus’, ferramentas internas e quereres que nem se tinha ideia da existência. Rosália é uma operária de 65 anos, que trabalhou sua vida toda numa fábrica de reatores em São Paulo. Demitida, ela se vê, da noite pro dia, sem emprego, sem rotina, sem objetivo. Sem rumo, é levada pelo irmão José até Buenos Aires, viagem que cria oportunidades de olhar, sentir e vivenciar situações diferentes. Lembra muito As Acácias, do argentino Pablo Giorgelli – sem conflitos paralelo, cheio de silêncios, mas repleto de significados.

Pela Janela não é pra todo mundo – é introspectivo, silencioso, reflexivo. À primeira vista, não acontece muita coisa – dois irmãos vão de carro pra Argentina. Se olharmos com mais cuidado, vamos notando a mudança no semblante de Rosália que se suaviza, no olhar que brilha ao ver as Cataratas e ao cantar, na voz que fica firme ao ensinar a moça a bordar. Jornadas interiores são assim – lentas, graduais. Mas seguras na sua transformação e na certeza de que, depois de vivenciá-las, não há volta no caminho. Será sempre em frente.

 

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