UM ALGUÉM APAIXONADO – Like Someone in Love

Cartaz do filme UM ALGUÉM APAIXONADO – Like Someone in Love
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Opinião

O diretor Abbas Kiarostami é iraniano, a atriz francesa e o ator inglês em Cópia Fiel. O cenário, a Itália. Em Um Alguém Apaixonado (selecionado para a 36a Mostra de SP), também é assim. Uma terra de ninguém. Um idioma só dos japoneses, sem que Kiarostami precise dominá-lo. Filmado em Tóquio, na paisagem cosmopolita, enérgica, ofuscante e vibrante do contemporâneo, o diretor iraniano deixa de retratar seu país – pelo destrato óbvio que as autoridades têm dados aos cineastas – e parte para o mundo. Quase uma antítese do que vinham fazendo os iranianos, na tentativa de mostrar ao mundo a sua realidade política e social.

Agora Kiarostami não só vai para o exterior, como faz questão de não contar uma história. Assim como em Cópia Fiel, com Juliette Binoche, em que os personagens se apropriam de uma língua e um país que não são deles, apropriam-se principalmente de uma vida e uma realidade que não lhes pertence de fato, mas que se vivida, pode se tornar realidade. Será? Pois é, ainda tenho as minhas dúvidas e acho, honestamente, que Kiarostami também não sabe. No cenário japonês, também não sabe – e gentilmente repassa para o seu espectador essa dúvida ou essa maravilhosa possibilidade de criar o imaginário, em tempos de tamanha objetividade e frieza das relações.

Não sabe se a jovem garota de programa Akiko conhece o tradutor e professor Takashi, que tem idade para ser seu avô. Ou ainda, se Kioko faz parte da memória afetiva de Takashi, se há algo em comum, já que há ternura no olhar dele, ou se, de novo, Kiarostami cria um enredo em que personagens não têm qualquer relação entre eles, mas a vida vai se entrelaçando de uma forma que eles próprios passam a acreditar no vínculo. Como se por encanto – embora aqui não haja qualquer vestígio de encantamento ou fábula, só e simplesmente vida nua e crua, em tempo real, como ela é.

Aliás, não tem qualquer artifício cinematográfico para suavizar o artifício da passagem do tempo. Se tantos minutos são necessários dentro de um carro para construir um significado do afrouxamento das relações, da perda da afinidade familiar, do vínculo e da intimidade das relações entre as pessoas, serão usados os minutos que o diretor achar necessário. Se no bar é preciso que o espectador escute tantas figurantes conversando, sem que isso acrescente algo para a história, para que a gente sinta, na pele, a vulgaridade e superficialidade das palavras, assim será feito.

O alguém apaixonado do filme é quem demonstra emoção, o único que quebra o fluxo estranho, porém corriqueiro do vai-e-vem das pessoas, que circulam sem fazer a diferença. É ele quem quebra o fluxo de energia constante e morna, sem brilho. É ele, um alguém apaixonado, que faz o espectador assustar. Assusta, por motivos outros, que você verá. Mas assusta também porque talvez seja uma demonstração de emoção, diante de tanta indiferença nessa vida atribulada e, ao mesmo tempo, monótona. A senhora que bisbilhota a vida dos outros pela janela que o diga. E o olhar do iraniano que filma no Japão, com japoneses, numa cultura completamente diferente da sua e da europeia (com a qual está acostumado), também é algo que faz refletir. Um olhar exterior, sim, mas não menos ausente do que o olhar que cada um daqueles japoneses tem pelo outro, da mesma cultura e tradição. Exceto o alguém apaixonado. Esse não olha para o vazio.

Nos cinemas: 09 de novembro

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