Opinião

Cheio de ternura em todas as suas camadas, CHA CHA REAL SMOOTH não tem a pretensão de dar lição de moral, nem dizer como as pessoas precisam se comportar diante de um adolescente autista, ou diante da vida. Apenas retrata, com graça e profundidade, o primeiro amor e o coração partido, o relacionamento entre mãe e filha, a paixão de um jovem por uma mulher mais velha, o entendimento desta mulher sobre suas escolhas, a cumplicidade fraterna, o amor entre mãe e filho. Vencedor do prêmio de público em Sundance, joga os holofotes sob o diretor, roteirista e ator Cooper Raiff, sinalizando em alto e bom tom que estamos diante de um talento e tanto do cinema independente americano. Esta história transborda uma intimidade que nos faz pertencer à narrativa já no primeiro momento.

CHA CHA REAL SMOOTH cria com o espectador uma identidade imediata. Em algum lugar desta dramédia (drama com comédia) a gente entra, se vê projetado e fica por lá — muito bem acomodado, diga-se de passagem. Confortavelmente assistimos à trajetória de Andrew, protagonizado pelo próprio Cooper Raiff, que se forma na faculdade, não consegue se encontrar num emprego, não sabe ao certo o que vai fazer da vida, volta para a casa dos pais e começa a fazer bicos como animador de festas. Numa delas, conhece Domino (Dakota Johnson, também produtora do filme) e sua filha Lola (Vanessa Burghardt) — que é autista, também na vida real.

O amor por Domino vai brotando, a sintonia com Lola, despontando, e as relações familiares de Andrew ficam no pano de fundo pra compor este personagem criativo, espontâneo, jovem, afetivo e extremamente espirituoso. Tem diálogos primorosos sobre o sentimentos universais e nos presenteia com uma cena final que prescinde de palavras. Cada um dança a sua dança, no próximo passo da vida que lhe cabe — o que está em sintonia com o título, que Cooper Raiff explica ser o momento da dança em que cada um cria seus próprios passos. Tudo a ver, né?