MEU PAÍS

Cartaz do filme MEU PAÍS

Opinião

Mais fáceis, às vezes podem ser; complexas, sempre são. As relações familiares representam as raízes, o começo de tudo – muito melhor se puderem também fazer parte do meio, sem desejar o seu fim. É nesse pé que está a família de Marcos (Rodrigo Santoro, também em Che – O ArgentinoChe – A GuerrilhaLeoneraCarandiru), Tiago (Cauã Reymond, também em À DerivaDivãEstamos Juntos) e Manuela (Débora Falabella). Com a morte do pai (Paulo José, também em Quincas Berro D’Água), os três irmãos têm duas opções: reatar as relações a partir desse ponto em que se reencontram ou separar-se definitivamente.

O último elo entre eles foi rompido e é preciso fazer uma opção. Marcos é um executivo, mora na Itália há muito tempo (aliás, tem uma relação bonita com a mulher, representada pela atriz Anita Caprioli) , é um sujeito rígido, tenso, que parece carregar um peso enorme nos ombros e uma angustiada relação com o passado (é preciso dizer que Santoro está realmente muito bem e acaba de vencer o prêmio do Festival de Brasília de melhor ator pelo papel). Tiago é o bon vivant – gosta de festas, mulheres e dinheiro, mas gasta o que não pode com o jogo. Manuela é a doce irmã que ninguém conhecia. Tem problemas mentais, mas aparentemente tem disposição para conviver.

Diante desse é o cenário, minha pergunta ao diretor estreante, André Ristum, durante a entrevista coletiva, foi sobre esse recorte na história da família. Sem fazer juízo de valor, sem pensar em detalhes do passado ou possibilidades futuro, tive a impressão de que o diretor queria mesmo era fazer saltar aos olhos do espectador momento crucial na vida de Marcos, Tiago e Manuela. Era a hora da virada, o momento da escolha. “O roteiro é enxuto”, diz Ristum, eleito melhor diretor em Brasília. “Achei desnecessário dizer aquilo que está embutido nos próprios personagens e que conseguimos perceber durante o filme”, completa. Concordo, e é justamente isso que dá leveza, complexidade e humanidade ao filme. Dizer o necessário, desprezar o excesso e deixar o subentendido para as câmeras captarem com a fotografia, com os enquadramentos, com o visual granulado das imagens, com a interpretação intensa e focada dos atores.

Grata surpresa, Meu País – aliás, a escolha do título é uma referência à retomada das raízes, das lembranças, do passado, como parte da história de cada um. Gosto da escolha – é sugestiva, nada óbvia. Dentre várias sensações que o filme despertou em mim – e acho que cada história de vida vai fazer ressoar as passagens do filme de forma diferente – eu diria que uma das mais fortes é a constatação de que cada passo é uma escolha. Conviver é uma escolha. Mesmo com quem não tivemos escolha.

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