O CLÃ – El Clan

Cartaz do filme O CLÃ – El Clan

Opinião

O cinema argentino marca ponto mais uma vez e é contundente demais. Ainda mais em se tratando do momento político atual por que nós passamos aqui na América Latina. Parece que temos uma luz bem lá no fim do túnel, com a Argentina e Venezuela elegendo a oposição e saindo tentando sair da indiferença, e o Brasil querendo acordar, depois de entregar de mão beijada o país pros bandidos. Digo isso porque O Clã, do maravilhoso diretor Pablo Trapeiro, fala disso: do conformismo, da indiferença, da falta de atitude de um país diante de crimes cometidos bem embaixo do seu nariz.

A história do clã dos Puccio é real, mas nem por isso vou contar o que acontece. Muita gente não conhece o fato e eu também não conhecia. Cada detalhe é uma surpresa, rodeado de absurdos. Parece mentira. Pura ficção. E mais: o que se passou durante a retomada da democracia na Argentina, depois da queda da ditadura, pode ser transportado para qualquer situação que acomode o ser  humano apático, o protótipo do não cidadão, do psicopata social, daquele que vive da sua própria mentira.

Arquímedes Puccio (Guillermo Francella, também em O Segredo dos Seus Olhos), é o patriarca do clã, trabalhava durante a ditadura como agente da repressão, operando sequestros e torturas. Com a perda do poder, passa a sequestrar pessoas ricas da sociedade, faz da sua casa o cativeiro e envolve seus filhos na jogada. Seu primogênito Alejandro é campeão de rugbi, faz parte do esquema dos negócios escusos do pai, mas mantém a vida social e esportiva normal, como se nada acontecesse. Aliás, Arquímedes também – é um pai dedicado e amoroso. Suas irmãs e sua mãe, são no mínimo omissas – mas eu diria que são coniventes. Tudo acontece debaixo dos seus olhos, dentro da sua casa e elas de nada desconfiam. Boa metáfora para a vida política tupiniquim, não?

O desenrolar é inacreditável. Trapero faz uma forte crítica social (vale ver Abutres, Leonera, Elefante Branco, Mundo Grúa) – mas tem também um cinema mais ameno, mas não menos realista, como Família Rodante, que segue pro lado mais humanista e de comportamento familiar. Em O Clã, indicado da Argentina ao Oscar de filme estrangeiro, ele escancara o cinismo humano com todas as forças. Chega a doer.

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