Opinião

Que potência é Dira Paes no retrato da determinação feminina. PUREZA é a personagem que vai às últimas consequências, só com recursos internos da maternidade e da intuição, à procura do filho. Inspirado na história real de Dona Pureza, que morava no interior do Maranhão e tocava uma pequena olaria junto com seu filho, este filme tem a força da denúncia que faz.

Dona Pureza e Abel vivem da venda dos tijolos a pessoas, que nunca são comprados pelo valor justo daquele trabalho feito de sol a sol. Sentindo-se explorado e desejando uma vida melhor, Abel parte para os garimpos na Amazônia, que prometem mundos e fundos aos jovens desesperançados. Pureza fica sem notícia do filho, sai pelas fazendas à sua procura e descobre que os trabalhadores vivem em situação análoga à escravidão. Recorre às autoridades em Brasília, percebe a teia de conivência e corrupção, e não se acanha diante do tamanho do vespeiro.

A luta de Dona Pureza impulsionou a criação, em 1995, do Grupo Especial Móvel de Fiscalização, que audita e fiscaliza as condições de trabalho e cumprimento das leis trabalhistas, unificando auditores, policiais federais e procuradores do trabalho nessa luta pelos direitos humanos. Em 1997, Pureza recebeu o prêmio Anti-Escravidão da Anti-Slavery International, em Londres — a mais antiga organização de combate ao trabalho escravo em atividade no mundo. Até 2021, o Grupo Móvel já tinha libertado mais de 57 mil trabalhadores nessas condições. O cinema registrando histórias que a gente não vê, desta que ficou conhecida como “abolicionista contemporânea”.