CORSAGE

Cartaz do filme CORSAGE

Opinião

A tradução literal de CORSAGE é espartilho. A tradução livre — me desculpem o jogo de palavras, mas foi irresistível — é tortura, prisão, anulação, privação, dor, sofrimento. É espremida pelo espartilho que Elizabeth da Baviera, mais conhecida como Sissi, tenta se moldar pra se adequar aos padrões de beleza da época. Ela e todas as outras mulheres. O agravante é que Sissi não tinha sossego. Era imperatriz consorte da Áustria e estava sempre sob os holofotes. Mas não podia pensar. Preocupar-se com a beleza e com a maternidade era sua única função.

Este é o recorte escolhido pela diretora austríaca Marie Kreutzer. A história de Sissi é cinematográfica por si só. Foi eternizada na célebre trilogia de Ernst Marischka, com Romy Schneider nos anos 1950, e em 2022 a Netflix lançou sua versão sobre a Sissi jovem, ainda cheia de alegria de viver, na belíssima série A Imperatriz. Digo “ainda” porque Sissi não consegue um lugar ao sol e cai na melancolia, sempre transgredindo o protocolo, guiada pelo seu ímpeto inquietude e petulância que beiram, aos olhos dos imperador e seus súditos, a doença mental.

CORSAGE, que tem uma trilha sonora que conduz a personagem, foca na imperatriz já balzaquiana, quando aos 40 uma mulher era considerada velha. Ela contesta, luta contra, se posiciona, trazendo à tona estas questões sobre padrões e o quanto isso aprisiona as mulheres. Na pauta do dia, com roupagem do século 19, reduzida pelos espartilhos e julgada pelo olhar invejoso dos outros, a história da imperatriz ganha este viés atual e fundamental quando se pensa hoje sobre o universo feminino, redes sociais, consumo, relacionamento, exposição, cobrança e expectativa social. Sem a atriz Vicky Krieps, também em Trama Fantasma, Sissi não seria a mesma. Ela é de uma intensidade cativante.

  • Além de ser o filme pré-indicado da Áustria ao Oscar de filme internacional, premiou Vicky Krieps em Cannes, na categoria Un Certain Regard.

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