HERMOSA JUVENTUD | MOSTRA SP 2014

Cartaz do filme HERMOSA JUVENTUD | MOSTRA SP 2014
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Opinião

Hermosa Juventud me lembrou de cara A Criança, dos irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne. Cannes reconheceu a importância dos dois, com o Prêmio do Júri Ecumênico e a Palma de Ouro, respectivamente. E não é para menos. Tratam com um tom muito realista um assunto importante e definitivo nas sociedades: o rumo que toma a juventude. O filme belga mexeu comigo e com o espanhol não foi diferente.

Enquanto o título A Criança dá um tom seco ao filme e ao relacionamento que se desenvolve entre jovens imaturos e despreparados, Hermosa Juventud, ou Juventude Maravilhosa (tradução literal) tem essa irônia implícita – e explícita. Ser jovem é maravilhoso, mas aqui está carregado pela falta de perspectiva de uma fase que deveria ser de alta produção, de plantar conhecimentos adquiridos, de trocar informações, de agir com humildade para aprender, ensinar, plantar e colher lá na frente. Planejar o futuro, mas sem deixar a ganância engessar. Ousar, com risco calculado. É a hora de viver intensamente com liberdade responsável, com já um pouco de bagagem e muita esperança no futuro.

Por isso a ironia. De “hermosa” essa juventude espanhola não tem nada. Com a crise econômica, o jovem joga a toalha, não dá valor à educação, não se especializa, curte a vida sem planejar nada, não encontra emprego, é mão de obra sem especialização, numa sociedade em que até os especialistas têm que se reinventar. O casal de namorados Nathalia e Carlos sonham com uma vida melhor, mas não se preparam para isso. Uma grana fácil aparece aqui e acolá, mas não há bagagem emocional para enfrentar a dura realidade. Isso fala alto demais no filme, a questão do tempo. Nada se colhe do dia para a noite. Com vinte e poucos anos, já têm que tomar decisões duras, criar uma filha, encarar a vida adulta sem que terem a experiência natural que a luta diária vai criando.

A juventude é para ser maravilhosa – sem que para isso ela tenha que ser fácil. Fácil demais perde a graça. Mas ela tem um sabor do desafio, da busca, da oportunidade, da liberdade de escolha. Nathalia e Carlos fazem escolhas, forçados pela vida. E é muito triste que seja assim, que isso seja tão comum e que a juventude deixe de ser maravilhosa para tantos jovens. Que serão o futuro do país. Isso é o mais assustador.

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